sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Uma crise chamada "adultolescence"

NOTA: este texto esteve 'de molho' há alguns dias. Tomei a liberdade (afinal ele é meu) de retirar as "marcas de indignação" (leia-se palavrões e agressões verbais). Este também deve ser um dos maiores textos que publico aqui, mas como já dizia o filósofo Schopenhauer, quem escreve por necessidade está escrevendo algo de bom (ou seja: não fica preso a um só gênero).

A inspiração para esta reflexão surgiu de um trecho de livro, as always:

"Prefiro chamar esta terrível fase de "adultolescence" - uma segunda puberdade que acontece durante seus vinte e poucos anos ou, às vezes, até nos seus trinta. Para mim, começou quando tinha 23, quase terminando a faculdade, e continua nas mais diversas formas até hoje. (...) Sinceramente, acho que a razão dessa transição ser tão difícil é que ninguém nos prepara para isso. Não dizem a você que seus amigos estão se casando enquanto você ainda está sozinho e que você começará a questionar tudo!"*
"My drunk kitchen" - por Hannah Hart


Realmente essa "adultolescence" é um problema. Lendo o livro da jovem Hannah Hart (em inglês, versão ebook), que encontrou 'seu lugar no mundo' fazendo o que gosta, concordo que não somos avisados dessa terrível fase da transição da adolescência para a vida adulta. Ela parece ser a pior de todas as fases - e não sei dizer se realmente é, pois a que vivemos no momento sempre parece ser a pior! - mas é extremamente complexa e difícil de lidar por ser uma transição totalmente opcional.

Você pode ser adolescente pelo resto da vida. Essa não é a discussão que proponho, mas não deixa de ser um fato. O problema é que ser adolescente não basta. A vida adulta tem seus poréns - excesso de responsabilidade, possível casamento, possíveis filhos, bens materiais, carreira profissional - e, por incrível que pareça, estas não são as causas da crise da adultolescence.

A crise é quando você não consegue se definir. Sabe bem o que gosta, o que quer fazer, bem como tem conhecimento das suas intenções - as melhores. E vê que a vida dos colegas que chegaram à adultolescence com você não compartilham da mesma situação. Você está solteiro - por opção - continua estudando - por opção! - um pouco frustrado com a profissão escolhida, sem muitos bens materiais - pra não dizer nenhum - sem grandes responsabilidades e sem reconhecimento algum. Sei que independente disso, podemos muito bem colocar nossas habilidades em prática e trilhar um caminho. A enorme pedra no meio do caminho, chamada 'culpa' (deve haver um nome melhor) por não ser o que esperam que você seja em sua adultolescence é algo crucial. Cruel.

Partindo da ideia de que todo ser humano busca ser feliz na vida, sabemos que tem muito “adulto-padrão” que é infeliz. Infeliz porque nunca fez o que gosta. Infeliz porque fez o que os outros queriam que ele fizesse. Teve sua adultolescence, mas não vivenciou a crise. Deixou-se levar pelas críticas. Mudou o modo de vestir. Mudou o modo de agir. Mudou o modo de pensar - nunca seguiu seu coração.

Embora nos sintamos deprimidos por estarmos em uma situação invisível perante a sociedade, sabemos que não há nenhum sentimento que dure para sempre (leia Rilke!) e a adultolescence há de passar. Sigamos nosso coração e o que tiver que ser feito será feito com ele, e assim não haverá erros. :)

Brincadeiras são necessárias. Quando uma pessoa lhe fala brincando, talvez seja a única forma que ela encontrou de te dizer algo sério. Estou treinando isso. A ironia tá aí para ser usada. Estou aprendendo muito com esse livro. E é um livro de culinária!


Anyway, já dizia Avril Lavigne: “aham,a vida é assim. Aham, é deste jeito.” O simples é o que há de mais sofisticado, e o óbvio é necessário porque não prestamos a devida atenção nele obviamente por ser óbvio. Portanto, lute. Lute, lute, lute, lute. E lute mais um pouco.

*tradução minha.

Referências:
HART, Hannah. My drunk kitchen. Canada: Dey Street Books, 2014.

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