NOTA: este texto esteve 'de molho' há alguns dias. Tomei a liberdade (afinal ele é meu) de retirar as "marcas de indignação" (leia-se palavrões e agressões verbais). Este também deve ser um dos maiores textos que publico aqui, mas como já dizia o filósofo Schopenhauer, quem escreve por necessidade está escrevendo algo de bom (ou seja: não fica preso a um só gênero).
A inspiração para esta reflexão surgiu de um trecho de livro, as always:
"Prefiro chamar esta terrível fase de "adultolescence" - uma segunda puberdade que acontece durante seus vinte e poucos anos ou, às vezes, até nos seus trinta. Para mim, começou quando tinha 23, quase terminando a faculdade, e continua nas mais diversas formas até hoje. (...) Sinceramente, acho que a razão dessa transição ser tão difícil é que ninguém nos prepara para isso. Não dizem a você que seus amigos estão se casando enquanto você ainda está sozinho e que você começará a questionar tudo!"*
"My drunk kitchen" - por Hannah Hart
Realmente
essa "adultolescence" é um problema. Lendo o livro da jovem Hannah
Hart (em inglês, versão ebook), que encontrou 'seu lugar no mundo' fazendo o que gosta, concordo que não
somos avisados dessa terrível fase da transição da adolescência para a vida
adulta. Ela parece ser a pior de todas as fases - e não sei dizer se realmente
é, pois a que vivemos no momento sempre parece ser a pior! - mas é extremamente
complexa e difícil de lidar por ser uma transição totalmente opcional.
Você pode ser
adolescente pelo resto da vida. Essa não é a discussão que proponho, mas não
deixa de ser um fato. O problema é que ser adolescente não basta. A vida adulta
tem seus poréns - excesso de responsabilidade, possível casamento, possíveis
filhos, bens materiais, carreira profissional - e, por incrível que pareça, estas
não são as causas da crise da adultolescence.
A crise é
quando você não consegue se definir. Sabe bem o que gosta, o que quer fazer,
bem como tem conhecimento das suas intenções - as melhores. E vê que a vida dos
colegas que chegaram à adultolescence com você não compartilham da mesma
situação. Você está solteiro - por opção - continua estudando - por opção! - um
pouco frustrado com a profissão escolhida, sem muitos bens materiais - pra não
dizer nenhum - sem grandes responsabilidades e sem reconhecimento algum. Sei
que independente disso, podemos muito bem colocar nossas habilidades em prática
e trilhar um caminho. A enorme pedra no meio do caminho, chamada 'culpa' (deve
haver um nome melhor) por não ser o que esperam que você seja em sua
adultolescence é algo crucial. Cruel.
Partindo da
ideia de que todo ser humano busca ser feliz na vida, sabemos que tem muito “adulto-padrão”
que é infeliz. Infeliz porque nunca fez o que gosta. Infeliz porque fez o que
os outros queriam que ele fizesse. Teve sua adultolescence, mas não vivenciou a
crise. Deixou-se levar pelas críticas. Mudou o modo de vestir. Mudou o modo de
agir. Mudou o modo de pensar - nunca seguiu seu coração.
Embora nos
sintamos deprimidos por estarmos em uma situação invisível perante a sociedade,
sabemos que não há nenhum sentimento que dure para sempre (leia Rilke!) e a
adultolescence há de passar. Sigamos nosso coração e o que tiver que ser feito
será feito com ele, e assim não haverá erros. :)
Brincadeiras
são necessárias. Quando uma pessoa lhe fala brincando, talvez seja a única
forma que ela encontrou de te dizer algo sério. Estou treinando isso. A ironia
tá aí para ser usada. Estou aprendendo muito com esse livro. E é um livro de culinária!
Anyway, já
dizia Avril Lavigne: “aham,a vida é assim. Aham, é deste jeito.” O simples é o
que há de mais sofisticado, e o óbvio é necessário porque não prestamos a
devida atenção nele obviamente por ser óbvio. Portanto, lute. Lute, lute, lute,
lute. E lute mais um pouco.
*tradução minha.
Referências:
HART, Hannah. My drunk kitchen. Canada: Dey Street Books, 2014.
lindo
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